Contribuição da Psicologia para o processo de Adoção
Vários profissionais têm atuação fundamental no processo psicossocial da Adoção. Começam no apoio prévio à família de origem, para evitar a retirada temporária ou definitiva da criança ou do adolescente em risco ou sob violência naquele lar. Passam pelo acompanhamento nos serviços de Acolhimento, pela preparação para o retorno à família biológica ou para o encaminhamento à Adoção. Enfim, a atuação interprofissional chega à preparação e ao acompanhamento da família adotiva.
Um desses importantes profissionais é o Psicólogo. De acordo com Mayra Aiello, Psicóloga, doutoranda em Psicologia pela UNESP Bauru e membro da Diretoria Técnica da Angaad, a Psicologia desempenha um papel essencial no auxílio às pessoas para superarem os desafios relacionados à parentalidade via Adoção. Aqui estão algumas maneiras pelas quais ela pode ser útil:
- Apoio Emocional: A Adoção pode envolver uma ampla gama de emoções, incluindo ansiedade, medo, alegria e tristeza. Os Psicólogos fornecem um espaço seguro para que os indivíduos expressem e compreendam essas emoções, ajudando-os a lidar de forma saudável com os desafios emocionais que surgem ao longo do processo de Adoção.
- Autoconhecimento: O processo psicoterapêutico realizado por um Psicólogo pode auxiliar cada membro familiar no processo de autoconhecimento no que se refere à sua história de vida, em relação a perdas, mudanças e processos de transição ao longo do ciclo vital. Além disso, o Psicólogo especialista em parentalidade e Adoção pode auxiliar na transição da parentalidade desse indivíduo, compreendendo traumas, marcas, lacunas e frustrações, e ampliando seus recursos emocionais ao lidar com o outro.
- Avaliação e Preparação: Antes de iniciar o processo de Adoção, os profissionais de Psicologia ajudam os futuros pais a avaliar suas motivações, suas expectativas, seus lutos, suas frustrações e suas capacidades para exercerem a parentalidade via Adoção. Essa avaliação garante que eles estejam preparados para enfrentarem os desafios que a Adoção pode trazer, ampliando os recursos a serem acionados frente a esses desafios.
- Orientação Parental: Durante todo o processo de Adoção, a orientação parental/familiar pode ser benéfica, para garantir que todos os membros da família estejam alinhados, compreendam as necessidades uns dos outros e estejam preparados para as mudanças que a parentalidade e a Adoção trarão ao ambiente familiar.
- Preparação para a Criança e o Adolescente Adotivos: Os Psicólogos também ajudam os futuros pais a se prepararem para a chegada do filho ou da filha adotiva, abordando questões relacionadas à Adoção e à história de vida, a como lidar com possíveis marcas ou desafios comportamentais e a como criar um ambiente acolhedor e seguro.
- Suporte Contínuo no Pós-Adoção: Mesmo após a Adoção ser finalizada, os desafios podem continuar surgindo, à medida que a família se ajusta à nova dinâmica Interna. O puerpério emocional na Adoção envolve um complexo processo de ajustamento multidimensional. Os Psicólogos oferecem suporte contínuo, com escuta qualificada e ampliação dos recursos emocionais, auxiliando nos conflitos familiares e nas questões de identidade da criança e do adolescente adotivos. Também fornecem estratégias para promover um ambiente adequado para relações familiares positivas e sustentáveis.
Conselhos para Interessados na Adoção
Para aqueles interessados na Adoção que buscam se preparar bem para o processo, Mayra listou alguns conselhos importantes. Considerando que é crucial buscar informações, participar de grupos de apoio e estar aberto ao processo de preparação oferecidos pelos órgãos competentes, ela sugere:
- Informe-se nos Órgãos Oficiais e se eduque sobre o Processo Judicial de Adoção: Procure o fórum/comarca da região em que mora, para buscar informações práticas para dar entrada no processo de habilitação à Adoção. Entenda as diferentes etapas do processo de Adoção, os requisitos legais, as expectativas e os prazos envolvidos.
- Participe de Grupos de Apoio à Adoção: Junte-se a Grupos de Apoio à Adoção e participe de eventos e reuniões educativas, informativas e reflexivas. Conheça outras pessoas que estão passando pelo mesmo processo, compartilhe experiências e obtenha conselhos valiosos. As rodas de conversa ajudam a diminuir a solidão e a construir uma rede de apoio.
- Prepare-se Emocionalmente: A Adoção é um processo emocionalmente intenso. Esteja preparado para lidar com sentimentos como ansiedade, expectativa, medo e alegria. Considere buscar apoio emocional para lidar com motivações, expectativas, lutos anteriores. Busque capacitar-se em letramentos que envolvem questões raciais, culturais e de cuidados com portadores de deficiência, crianças de várias faixas etárias e adolescentes e grupos de irmãos, entre outras que poderão estar presentes na ampliação da família.
- Prepare-se para o Puerpério Emocional Adotivo: Enfrente o desafio de se adaptar à nova rotina, às mudanças de humor e à ambivalência. Resgatar suas transições anteriores pode ajudar a acessar os recursos necessários e a investigar novos que precisa adquirir.
- Trabalhe a Resiliência Emocional: Paciência de esperar e aprender a lidar com o tempo e as frustrações são fundamentais. Busque parcerias e espaços para ter os sentimentos validados, essenciais para um crescimento individual e familiar saudável.
- Conheça as Necessidades da Criança e do Adolescente Adotivos: Eduque-se sobre as necessidades emocionais, físicas e sociais das crianças e dos adolescentes que estão aptos à Adoção. Isso inclui entender possíveis marcas e traumas, histórias de vida e desafios específicos que eles podem enfrentar.
- Prepare-se para a Próxima Fase: Busque práticas e ações profundas, que facilitem seu processo de autoconhecimento. Práticas meditativas, psicoterapia, atividades manuais e confecção de um álbum de fotos da gestação afetiva são algumas atividades que possibilitam esse mergulho.
- Não Romantize a Adoção: Evite a ideia redentora de Adoção como um ato de caridade. Entenda que quem vai transformar sua vida será seu filho ou sua filha. Desfazer o imaginário coletivo da Adoção associada ao abandono e à caridade é essencial.
- Envolva a Família Extensa, os Amigos e os Colegas de Trabalho: Converse abertamente com sua família extensa sobre seu desejo de adotar, formando uma rede de apoio desde os primeiros passos. Envolva-os em cada fase do processo e promova o aprendizado sobre a Adoção contemporânea.
- Confie no Processo e na Equipe Técnica Judiciária: Dependendo do perfil escolhido, pode levar mais ou menos tempo para seu filho ou sua filha chegar. Saiba que, na hora certa, ele ou ela estará em seus braços e que o apoio no pré e no pós-Adoção é fundamental para a construção dessa parentalidade e da relação afetiva.
Mudanças no Comportamento e na Consciência
Nos últimos anos, a ANGAAD tem notado um aumento nas chamadas "Adoções prioritárias", que englobam grupos de irmãos, adolescentes, crianças maiores e aquelas com problemas de saúde. Segundo o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), em 2019, o ano anterior à pandemia, houve um total de 3325 adoções, das quais 766 foram de grupos de irmãos, 79 de crianças e adolescentes com problemas de saúde, 429 com mais de 10 anos de idade, 12 de crianças e adolescentes com deficiência intelectual e 6 com deficiência física.
Os números de 2023 representam um aumento significativo. Em comparação com 2019, foram realizadas 5032 adoções em todo o Brasil, representando 51% a mais que em 2019. Foram 2395 de grupos de irmãos (aumento de 126%). Para crianças e adolescentes com problemas de saúde, esse número chegou a 559, um aumento de 607%. Para os que tinham mais de 10 anos de idade, foram 556, representando 29,6% de adoções a mais, enquanto 109 foram de crianças e adolescentes com deficiência intelectual (808% a mais) e 48 com deficiência física (aumento de 700%).
Esse resultado reflete uma série de fatores atrelados à pandemia, mas acontece também devido à maior proximidade e à interação com grupos de apoio, que têm contribuído para a desmistificação da Adoção. A atividade acaba também transformando o perfil dos adotantes, promovendo uma aceitação e uma disposição para adotar crianças e adolescentes com diferentes necessidades.
“Os números são positivos. No entanto, em meio ao aumento do número dessas adoções, vemos ainda muita idealização e romantização. É preciso falarmos cada vez mais de Adoção, em todos os espaços, para trabalharmos efetivamente a quebra de tabus”, afirma Jussara.
Celeridade e Eficiência Durante o Período de Acolhimento
A implementação da Lei nº 13.509, em 2017, estipulou em 3 meses o prazo para reavaliação e permanência nos serviços de Acolhimento. Também limitou a permanência nos serviços de acolhimento a 18 meses. É um movimento positivo em direção à maior celeridade dos processos de avaliação da possibilidade de retorno às famílias de origem ou extensa (tios, avós, padrinhos, entre outros) ou o encaminhamento à família adotiva.
“Esses são chamados prazos ‘impróprios’, ou seja, seu descumprimento não gera qualquer sanção, o que faz com que muitas vezes eles não sejam observados, até mesmo em virtude da falta de equipes técnicas especializadas e de Varas de Infância exclusivas, nas Comarcas com população condizente com tal demanda”, destaca Jussara.
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