Oito mulheres usam vestidos de casamento transformados em obras de arte e provocam um alerta para a violência
Com vestidos de noiva transformados por artistas visuais de Brasília, oito mulheres atravessaram nas faixas de pedestres e a estação de metrô da Praça do Relógio, no Centro de Taguatinga, em performance-manifesto contra o aumento do feminicídio no Distrito Federal, que bateu o número de 24 mortes em 2024.
Em mãos, elas traziam potentes leques coloridos que, quando batidos contra o ar, provocavam um som que chamava a atenção de quem passava de carro ou a pé.
“O leque é como se fosse um basta contra tanta violência”, observou a artista visual venezuelana Fabs!, autora do vestido-obra feminista “Contos de Fadas são Contos de Fadas”.
“No primeiro momento, fui capturada pelos sons dos leques que me remetiam aos tambores de um ritual. Só depois, vi as atrizes individualmente numa performance forte, Desejo que a mensagem reverbere no público que viu”.
Durante uma hora e meia, a performance impactou cerca de 5 mil pessoas que entravam e saiam da estação de metrô ou que se deslocavam de automóvel nas vias centrais de Taguatinga.
A reação do público foi de surpresa à comoção. A servidora pública Maria da Glória Guimarães ficou em estado de êxtase.
“Estava com a cabeça nas coisas do dia e, de repente, encontro oito noivas chamando a atenção de todas para o perigo que estamos correndo só por sermos mulheres. O feminicídio é nefasto e está à espreita. Precisamos seguir em vigília”.
“Era enigmático porque a noiva te chamava a atenção pela beleza e, de repente, ela suspendia a saia e você ficava diante de uma imagem de uma espécie de bruxa ameaçadora com uma língua enorme que te espantava”. A criação é inspirada na deusa grega Baubo que afasta e debocha de quem ameaça o ventre feminino.
Autora de “Sonhos Atados”, Christiane Contreiras ficou emocionada ao ver seu vestido-obra no corpo de uma mulher trans, a social media e modelo Lunares Ayla. A obra cria uma barriga de gravidez com material de ataduras.
Desfilando a própria criação, “Imaginação Bálsamo”, Luara de Paula trouxe um vestido-obra impactante que reproduz feridas e carepas causadas pela violência.
“Sentimos na pele o quanto foi forte e necessária essa ação. Infelizmente, ao passarmos pelas faixas de pedestres vimos alguns homens assediando as modelos”.
“O objetivo foi o de ressignificar esse símbolo máximo do casamento, que traz signos históricos e opressores como o mito da virgindade, a repressão sexual, a violência doméstica e a submissão das mulheres”, explica.
Com concepção e direção do artista visual e ator, Jones Schneider, o desfile-performance teve a participação de Iclélia Maranhão (atriz e arte-educadora com “Os Contos de Fadas São Contos de Fadas”); Márcia Costa (atriz com “Linhas e Fios Poéticos”), Ianca Gomes (social media e influencer digital com “Baubo”), Luara de Paula (artista visual que vestirá a própria obra, “Imaginação Bálsamo”); Lunares Aires (modelo e social media com “Sonhos Atados”), Clara Camarano (atriz com “Euforia do Prazer ou a Alforria do Sexo Original”; Isabela Gomes (social media com “Arriscar”) e Evellyn Rodrigues (modelo com “Hey de Partir”).
As modelos usaram os vestidos-obras “Euforia do Prazer (ou a Alforria do Sexo Original)”, de Suyan de Mattos; “Arriscar”, de Carmen San Thiago; “Baubo”, de Júlia Gonzales; “Hey de Partir”, de Triz de Oliveira Paiva; “Imaginação Bálsamo”, de Luara de Paula; “Linhas e Fios Poéticos”, de Eliane Teixeira; “Os Contos de Fadas São Contos de Fadas”, de Fabs!; e “Sonhos Atados”, de Christiane Contreiras.
A partir de janeiro, as obras estarão expostas na Sala de Exposições do Centro Cultural do Sesi Taguatinga (QNF 24).